sexta-feira, 26 de julho de 2013

PELA PAZ NO EGITO


O que ocorre no Egito?

O povo fez todas aquelas manifestações para tirar do poder o grupo do Mubarack, militares que governavam o Egito desde a morte de Anwar Sadat.
Antes, quero esclarecer que o Egito firmou um acordo de paz, reconhecendo o Estado de Israel, em 1979, em troca de  1,5 bilhão de dólares ao ano, pagos pelos EUA, os quais são destinados ao Exército. Esse acordo ferrou com os palestinos, porque perderam um aliado que, a partir de então, teria de se omitir na resistência à Israel.  Isolados, sem o apoio do Egito e da Jordânia, que também firmou acordo semelhante,  os palestinos ficaram tão enfraquecidos que, no confronto com Israel,  em dezembro de 2008,  o Lula sensibilizou-se e foi até Gaza (terra do Egito, que Israel devolveu em razão do acordo) para pedir a Israel que parasse a matança dos palestinos.  Naquela época, o Egito também pediu para parar, mas nada fez de concreto. Acho que foi ótimo não ter feito, porque senão iria haver uma nova guerra. Aquele povo sempre foi muito bravo. Não sabe resolver nada na conversa.

A digressão se fez necessária, para entender o que se passa no Egito. O que quer aquele povo? Derrubaram um regime de força, votaram e elegeram o Mursi. Daí que ele se desentendeu ideologicamente com o presidente da Suprema Corte. E terminou com a sua deposição pelo Exército, apoiado pelas manifestações dos cristãos e dos laicos, ambos anti-islâmicos.

Acho que a questão de fundo é o acordo com Israel. O Mursi não estava a fim de continuar a abandonar os palestinos, cuja maioria é muçulmana e sempre foi amiga dos egípcios. É possível que a hipótese seja verdadeira e, assim sendo, a OTAN tratou de agir, pois um Egito hostil a Israel, enfraqueceria o poder de suporte à ofensiva contra o Irã, pretendida por ela. Assim, os cristãos e laicos, estimulados pelo apoio da OTAN, devem ter gritado pela deposição do Mursi. Claro, os motivos divulgados para as manifestações sempre serão outros, como descumprimento disso ou daquilo, tratamento desigual etc. Mas, isso são conjecturas.

Analisando apenas o quadro fático, verifica-se que, agora, são os muçulmanos que clamam pelo retorno de Mursi à presidência. Há risco de uma guerra civil. Mas, com certeza, para evitá-la, o busílis será: ou retorna o Mursi ao poder, garantindo o cumprimento da decisão das eleições, as quais foram consideradas democráticas pela ONU, ou então, o novo ditador convoca uma Constituinte para redigir outra Constituição e convoca novas eleições. Se a opção for por uma nova Constituição, acho que de nada adianta ser reescrita por nacionais comprometidos com um ou outro grupo. Penso que teria de ser redigida por historiadores e juristas internacionais, imparciais, para que as regras sejam isonômicas e para um Estado laico. Mas se o novo ditador optar por continuar com está, então apavora a enorme probabilidade de uma guerra civil sangrenta, à la Siria.

2 comentários:

  1. Prezado Fauzi,
    Parabéns pela considerações feitas acerca de um tema complexo em sua essência. A dificuldade de compreensão aumenta ainda mais diante de uma mídia que fomenta versões as mais diversas, muitas delas, contaminadas certamente por interesses outros.
    Att.
    Hermes

    ResponderExcluir
  2. Ontem foram mais de 600 e hoje mais 25 manifestantes foram mortos. A vingança dos sobreviventes já começou, lamentavelmente.A ONU deveria intervir, pois ela mesmo considerou que o Presidente, ora deposto pelo exército, foi eleito em eleições limpas.
    Mas EUA e Israel se oporão, pois interessa a eles manter o exército, que recebe U$ 1 bi por ano para assegurar o cumprimento do acordo de paz com Israel. O presidente deposto parece que queria questionar a validade desse acordo.


    ResponderExcluir