Não compreendo o que se chama de esquerda nestas
eleições. Para mim, o único que poderia
ser assim chamado seria o Cyro Gomes, cuja plataforma seria mexer na questão da
dívida pública, principal causa da recessão, já que metade de toda arrecadação
da Receita Federal é usada para pagá-la
mensalmente.
Nenhum dos dois candidatos
atuais sequer mencionou essa impossibilidade de custear o Brasil somente com
metade da arrecadação tributária, significando que as reformas que atingiram os
direitos trabalhistas e previdenciários serão realizadas, estando também na
mira outras economias que ambos não revelaram, mas que possivelmente virão,
pois não bastarão apenas as duas reformas para evitar o drástico efeito dos
juros da dívida na economia: o uso da praga da Tabela Price, que usa os juros
compostos e que foi inventada pelos credores para submeter os devedores aos seus interesses.
A chamada esquerda brasileira nada tem de socialista,
conforme demonstrou o governo Lula, em cujo período os bancos se refestelaram
com os maiores lucros de sua história. No máximo poder-se-ia dizer que é liberalista solidária, ao
contrário dos liberalistas individualistas, característica da elite brasileira.
Solidariedade que foi difundida mundo afora pelo próprio liberalismo. As tão
atacadas, no Brasil, bolsa disso e bolsa daquilo, também existem em todos os
países liberalistas do mundo, sob outras denominações. Aqui elas não foram
suficientes para acabar com a miséria. Melhorou a vida de alguma parcela dos
pobres, mas não atingiu a todos, até porque seus valores diminuíram e hoje
talvez dê apenas para evitar a morte por inanição.
Mas, com enfoque nas eleições, não se sabe bem o que vem por
aí, de ambos os lados. Estou assistindo à reprise de 1989, quando Collor e Lula
foram para o segundo turno. O PT de Lula havia brigado com o PDT de Brizola
(acho que nenhum dos dois queria assumir o custo eleitoral de confiscar o
dinheiro da poupança, conforme exigiam os artífices do Plano Econômico
elaborado pelo FMI). O Collor, liberalista individualista, foi erigido à
condição de salvador da pátria, afundada em inflação e dívidas impagáveis,
defendendo a caça aos marajás.. Deu no que deu!...
E aí, aquela mesma maioria que ora apóia o Bolsonaro foi
atrás, porque sempre odiou o ganho de altos salários pelos cargos públicos (muitas
sinecuras para apadrinhados e cabos eleitorais - uma plataforma que se
transformou numa baita mentira, porque tudo continuou com antes e até pior) e
se apavorava pela ideia de ser governada pelo PT.
Mas ele acabou sendo eleito com os votos daquela maioria e pela mídia
lacaia dos credores banqueiros. Um dos primeiros atos? Confiscar a poupança do
povo (dizia na campanha mentirosa que era o Lula quem queria confiscar...). Vi gente chorando de raiva por ter nele votado.
Ouvi falar de suicídios em vários lugares.
Soube de muitos infartos. Eu mesmo, ainda com 45 anos, passei mal e
pensei que estava tendo um... Quase todas as minhas economias foram para os
cofres dos banqueiros credores, assim como de todos os confiscados que
acreditavam no único investimento com fama de seguro...Ledo engano, leda
crença.
E hoje? Aquela mesma maioria está acreditando que o Bolsonaro irá
fazer tudo isso que ele está dizendo. Acho que está havendo reprise.
Diferentemente de fechar o Congresso e de matar ou expulsar do Brasil o pessoal
do PT, como tem acreditado uma grande parte de seus eleitores, sedentos de
violência e sangue, ele tem conversado com o Centrão, os mesmos que venderam votos no episódio do mensalão.
Claro que negociará votos no Congresso,
para aprovar os seus projetos de arrocho, até porque o Banon, aquele belicista ideólogo do Trump, parece que não quer os militares de volta, mas sim um governo forte e capacho (o filho do Bolsonaro já conversou com ele e saiu convicto de seu apoio) por aqui. E no Congresso tudo continuará como antes, e talvez até aprovem uma declaração de guerra à Venezuela e mudem a adesão do Brasil ao Direito Internacional, voltando-se contra os palestinos, os russos, os chineses etc, enfim implodindo o BRICS e acordos comerciais no Oriente Médio, na América Latina e na África.
Sempre houve a negociação de votos, mas quando o PT foi comprar,
não percebeu que os liberalistas individualistas estavam de olho, porque a elite odeia a solidariedade e estava afoita em busca de motivos para desmoralizar Lula e
o PT, sendo certo que a compra dos votos
dos bandidos vendidos do Congresso seria para aprovação dos programas sociais,
que só assim puderam ser aprovados. A outra forma seria o Lula chamar o povo
para referendar seus projetos, o que ele não fez, sei lá o porquê, talvez a urgência do socorro aos
pobres. O fato é que o Brizola tirou o apoio do PDT, bem antes do Jefferson denunciar o esquema, e petistas de peso como Heloísa Helena caíram fora. O PT se deu mal ao correr o risco de fazer a mesma coisa costumeira no Congresso...Achou que, por ter sido apoiado por parte dos banqueiros e dos industriais, estaria aceito por eles. Não percebeu que a elite estava apenas usando o carisma de Lula para projetar o Brasil no exterior e negociar com o FMI (o governo do FHC havia deixado o Brasil no buraco).
Quais serão as surpresas desta vez? Ninguém sabe, porque
ambos muito pouco disseram. Cyro foi o
único que havia explicitado o seu programa, um profundo conhecedor dos
problemas brasileiros, mas foi rejeitado pela polarização cega e burra, características do radicalismo.
Vejo no governo a volta dos que não foram, o retorno da
preponderância dos interesses da elite individualista, parecida ou idêntica à política do Collor. O que não entendi foi o Olavo-guru reclamar da política do governo, numa entrevista: "ao invés de atacar as elites eles estão fazendo acordo com elas..."; quais elites?
Como cantava a portuguesa Esther de Abreu: o que serái, serái, aquilo que for
serái, nós temos que esperaire...Fazer o que, né?